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sábado, dezembro 27, 2008

esclarecimentos sobre o halterofilismo


Mike Mentzer (esquerda, ao lado de Lou Ferrigno, bodybuilder conhecido pelo papel de Hulk na série)


Dorian Yates: primeiros resultados do HIT


Artur Jones, inventor das primeiras máquinas de musculação


(esclarecimentos de Marília Coutinho - tia e sabedora do assunto. Obrigado, Ynanna. Feliz ano novo e beijo grande!):

Ei Rafa,

Bem, ao assunto.

É H.I.T. High INTENSITY (e não "density", que se refere a outras coisas, depois explico) training. O que eu vou contar aqui é um pouco especulativo, mas se apertada contra a parede eu sustentaria, pois existem evidências indiretas bem fortes.

Os irmãos Mentzer desenvolveram na prática, aplicando junto com Dorian Yates e adotando uma postura meio ideológica com a coisa, o tal HIT. As bases dele foram elaboradas pelo Arthur Jones e seus amigos dentro das universidade.

Mas olha que conexão interessante: Arthur Jones foi o inventor das primeiras máquinas de musculação a se transformar em indústria mesmo, a tal Nautilus. O cara morreu biliardário com elas. Ele e os amigos dele viraram (ÓOOOOBVIO) os maiores defensores de uma teoria que diz que a melhor coisa para aumentar o músculo (hipertrofia) e a força é o isolamento do MÚSCULO MOTOR PRIMÁRIO através de MOVIMENTOS GUIADOS. E isso se faz como? Com MÁQUINAS!!! Tipo essas aqui que eu vendo, saca?...

Isso deu um pau do caralho no meio acadêmico, pois, não esqueça, era guerra fria. De um lado a indústria de máquinas e de suplementos explodia e formatava o que hoje conhecemos como o MERCADO DO FITNESS, que é uma key industry da economia contemporânea. De outro, estavam escondidos os cientistas e treinadores de atletas de elite para alimentar a porra da guerra olímpica, que sabiam que isso era uma grande bobagem, pois isolar músculo só serve pra fazer os Chesters do bodybuilding – performance que é bom, necas de pitibiribas.

Performance, força pra valer, força funcional, só com peso livre. O motivo é meio complicado de explicar mas vamos lá. No cérebro da gente tem umas paradas que são os "centros motores". Estes senhores não reconhecem que músculo X foi contraído, "então posso aplicar para qualquer coisa que envolva músculo X". Eles reconhecem PADRÃO DE MOVIMENTO. Por isso, se o seu barato é abaixar e apanhar malas, não adianta muito eu colocar você numa máquina que fortaleça a bunda, outra que fortaleça a coxa, outra que fortaleça a lombar e assim por diante, porque o seu cérebro não junta as coisas!

Ou seja: o modelo de treino desenvolvido pelo Arthur Jones e, claro, pelos irmão Mentzer e Dorian Yates, só serve mesmo pra fabricar Dorian Yates, e não para treinar nem gente real (os outros 6 bilhões de habitantes do planeta que possuem músculo e usam essa coisa) e nem atleta.

Mas... dá uma grana do caralho.

E é que nem o 0800 das facas Ginsu: "e não é só isso! Além da grana do caralho da indústria de máquinas e suplementos, tem também a grana do caralho da prostituição – principalmente masculina – e da venda ilegal de anabolizantes!!"

Enfim, o coitado do Mentzer não tinha idéia de que a merda evoluiria para o ventilador tão rápido – por isso achei visionária sua perspectiva sobre o pesadelo dele.

O Dorian, coitado, é outro que deve ter sido atropelado por essa merda toda. Hoje tem uma ONG pra cuidar de crianças lá na Inglaterra.

A prostituição é uma tristeza, pois os atletas são assediados o tempo todo. O bodybuilding é um esporte que tem uma aplicação científica importantíssima. Imagine, por exemplo, um sujeito mutilado que atrofia uma parte da musculatura e depois precisa recuperar. Sem ter aplicações de alta performance que permitam que a gente entenda hipertrofia muscular, saberíamos pouco sobre como ajudar esses caras. O mesmo se pode dizer sobre a recuperação de vítimas de desordens "caquéticas" (que não é coisa velha e escrota, e sim coisa CONSUMPTIVA). Essa deformidade que é a exploração dos atletas e assédio por gigolôs é algo que denigre a imagem do esporte e entristece muito quem se dedica a ele – MAIS PESADELOS!!!

Só que o lado mais negro é que uma parte importante dos atletas, que vem de estratos sociais muito desfavorecidos, é quase que obrigado a topar o que lhes é oferecido, tipo dançar na noite, tirar fotos pornográficas, e outras coisas mais indignas, porque por falta de apoio e patrocínio, terminam uma estação competitiva super endividados.

É muito triste esse pesadelo: depois de sugar o sangue dos atletas, usar a imagem deles para ganhar milhões (em troca de meia dúzia de potes de whey) e estudar a fisiologia do que eles passam em benefício de muitos, os caras (atletas) são descartados.

Acho que é isso... Se quiser pode postar isso no seu blog. Eu sustento.

Beijões

Marilia

PS – Vamos dar uma corrigida no termo HALTEROFILISMO?

1. Bodybuilding = FISICULTURISMO ou CULTURISMO em português. É um esporte mais de hipertrofia do que de força propriamente dito, embora eu o inclua no grupo de esportes de força;

2. Powerlifting = LEVANTAMENTO BÁSICO ou LEVANTAMENTO DE POTÊNCIA, que é o que a tia maluca pratica (eu); é um esporte de FORÇA MÁXIMA, onde se compete pela maior carga levantada nas seguintes três disciplinas: agachamento, supino e levantamento terra (tudo feito com barras olimpicas e anilhas nas pontas);

3. Olympic ou Weightlifting = LEVANTAMENTO OLIMPICO, que é o esporte que se vê nas Olimpíadas. Tem duas disciplinas: o arranco e o arremesso. É um esporte de força onde o componente POTÊNCIA é mais importante (velocidade X força);

4. Strongman = é a origem de todos esses esportes, pois barras olímpicas são uma invenção do século XX!! Strongman é aquela coisa mais tosca com objetos do cotidiano – mó da hora.

5. Luta de braço – o único esporte de força que prescinde de pesos. É extremamente técnico e também é o único em que os adversários se tocam.

Todos, tecnicamente, são "halterofilismo", que significa "amante dos halteres". Mas são super diferentes.

2 comentários:

Fê Menezes disse...

por isso prefiro yoga... rá!
beijo e vamos trocando figurinhas...

Maricota (aquela da RT Features)

Anônimo disse...

Rafa, já que está na pilha, assista ao documentário "Bigger, Stronger, Faster" sobre os anabolizantes no bodybuilding. Não é aquela coca-cola toda mas o autor é ex-usuário e um dos seus dois irmãos (todos frutos dos anos 1980 de Rambos e Arnolds) ainda o é. Com conhecimento de causa, pesquisa científica e socialmente suas consequências. Curioso.